O Caraça

Histórico do Caraça

  
Irmão Lourenço, por Manuel da Costa Ataíde
    A serra do caraça, local em cujas entranhas, petrificadas pelo tempo, escondem maravilhas primorosamente esculpidas pela natureza. O Caraça guarda mistérios como a história da origem do seu fundador que a partir do ano de 1770 instalou uma capela e um centro de peregrinação.


  Conta uma das lendas que Carlos Mendonça Távora veio para o Brasil refugiado da corte após um atentado à vida de D. José I, rei de Portugal. Por causa dessa conspiração toda a sua família foi executada pelo Marquês de Pombal. Desse episódio restou apenas um dos Távora, que conseguiu fugir da chacina pública. Mais tarde, refugiado no Brasil, adotou o nome oficialmente conhecido: Irmão Lourenço de nossa Senhora, pela Ordem Terceira de São Francisco.


  Daquele tempo para cá, o antigo centro de peregrinações e hospedaria se transformou em uma escola e um centro de missões após o Irmão Lourenço ter feito um testamento endereçado ao rei em 1810, anos antes de sua morte. Daí em diante, várias personalidades do país estudaram no Colégio do Caraça, desde religiosos como padres e bispos, a políticos do cenário nacional como os ex-presidentes Afonso Pena e Arthur Bernardes.


   No ano de 1968, o colégio do Caraça foi destruído por um incêndio, proveniente de um fogareiro elétrico deixado ligado por um dos alunos. O fogo se espalhou rapidamente pela construção, encontrando material inflamável, o que agravava ainda mais a situação. Um dos alunos, que dormia na enfermaria, sentiu o cheiro de queimado e o anunciou ao padre, que tratou logo de retirar os estudantes do local. Em um ato heroico, alguns dos alunos se arriscaram salvando 15.000 livros da biblioteca e evitando que a imagem de Nossa Senhora das Graças se convertesse em cinzas.  No dia seguinte ao incidente, quando os bombeiros chegaram, o fogo estava quase se apagando, mas por sorte, não houve mortes ou feridos.





Consequências do Incêndio

  
   Após o incêndio ocorrido em 1968, o Caraça teve de buscar outras alternativas. Uma delas foi a parceria com instituições e universidades e de um amplo planejamento da atividade turística. A proposta inicial foi ordenar o turismo porque como reserva particular o Caraça necessita do turismo para a sua manutenção. Os trabalhos iniciais foram ordenar os passeios, implantar coleta seletiva de lixo e implantar pequenas atividades educativas que vieram com a implantação do serviço de monitoria ambiental.  A biblioteca ficou fechada e os livros guardados após o incêndio. Em 1990, foi feita a restauração deste prédio e trouxeram, novamente, os livros pra cá. Começamos a fazer um trabalho de pré-catalogação. Primeiro, trabalhamos com os livros raros. Foi feita uma higienização desses livros página por página e um início de restauro, isto é, a hidratação dos couros e pequenos reparos nas capas. 


  O acervo da Biblioteca conta com 1400 volumes do século XVI, século XVII e XVIII, dentre eles, o livro "História Natural", de Plínio - o Velho -, soldado romano que viveu entre os anos 23 e 79 d.C., impresso em 1489. Na biblioteca, podem ser encontradas preciosidades como o menor livro, "Imitação de Cristo" de 1851, e o livro do Pai-Nosso Dentre as preciosidades do acervo, temos também o menor livro, de 1851- Imitação de Cristo. Também o livro do Pai-Nosso - Oratio Dominica - um livro de 1870, com o Pai-Nosso em 250 idiomas. Na página 95 está a oração em língua portuguesa.

  O parque Natural do Caraça está localizado no Estado de Minas Gerais, no contraforte da Serra do Espinhaço e localiza-se nos municípios de Catas Altas e Santa Bárbara. As rochas da região remontam ao período pré-cambriano e a sua topografia se formou no período terciário em um movimento da crosta terrestre que levantou toda a cadeia do Espinhaço. Quando da incursão dos bandeirantes pelo interior do Brasil, na região que seria a futura Capitania das Minas Gerais, os expedicionários depararam com uma enorme cara esculpida nas pedras, razão porque deram o nome de Caraça, ao local. Pesquisadores ainda tentam explicar que o termo "caraça" refere-se ao rosto avantajado do Irmão Lourenço de Nossa Senhora, fundador do santuário. Abençoado, o Irmão Lourenço não poderia imaginar quão longe chegaria a sua magnífica obra.

  Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, em fins do século XVII, vária vilas desenvolveram-se nas margens dos ribeirões e, grande parte do ouro extraído era enviado para Portugal e, posteriormente, Inglaterra. Em fins do século XVIII, a Coroa Portuguesa descobre, através de denúncia de Joaquim Silvério dos Reis que o grupo de jovens idealistas, influenciados pela Revolução Americana planejava uma revolta contra o Império. Os chamados Inconfidentes foram presos um a um e, o seu maior nome, Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes, foi enforcado e esquartejado em 21 de abril de 1792. Na segunda metade do séc. XVIII, a colônia brasileira passaria à condição de vice-reinado, e o ouro que começava a mostrar sinais de escassez já não era garimpado com tanta abundância. Nesse contexto histórico, um homem codinominado Irmão Lourenço de Nossa Senhora chega à Serra do Caraça por volta de 1770. E constrói, em 1774, uma ermida em homenagem a Nossa Senhora Mãe dos Homens.

   A construção da igreja em estilo neogótico foi iniciada pelo padre Julio Travellin em 1880. Quarenta operários, dentre eles indivíduos de nacionalidade espanhola e portuguesa, trabalharam na construção.


   Com a chegada dos padres portugueses, o Colégio do Caraça inicia suas atividades, no começo do Ano Imperial de 1821, com quatorze alunos. Seu ensino era eminentemente humanista e tinha como base o Grego, o Latim e a Língua Pátria. Com o surto de varíola que acometeu a cidade de Mariana no ano de 1853, o Bispo D. Viçoso resolveu reabrir o Colégio do Caraça, fechado em 1842, ano de insurgência da Província de Minas contra o Imperador do D. Pedro II. É o início da idade de ouro do Caraça que passa a ser o formador do clero mineiro.

   O caraça, administrado por brasileiros inicia em 1903, com o superiorato do padre Francisco de Paula e Silva. O padre superior reabre a escola apostólica que funcionará até o terrível incêndio de 1968.


    Graças à persistência e a dedicação dos padres, ainda podemos observar um grande acervo artístico dos séculos XVIII e XIX, um período de grandes acontecimentos, como a visita de D. Pedro II, em 1881, a construção do órgão de 700 tubos, a chegada da luz elétrica, em 1893 e a formação de grandes nomes, como os ex-presidentes Affonso Augusto Moreira Penna (15.11.1906 a 14.06.1909) e Arthur da Silva Bernardes (15.11.1922 a 15.11.1926). 
   
Cama utilizada por D. Pedro II em sua visita ao Caraça

  Ao chegar ao Caraça, em 1881, D. Pedro II, aos 57 anos de idade, ao passar pela antiga estrada ao lado da Cascatona, teria dito: Uma das mais belas cascatas que eu conheço. Não posso descrever tanta beleza. E D. Pedro tinha razão, a visão é uma das mais belas de toda a região.    


   Em 1926, contrariando os engenheiros da época, que diziam ser impossível a construção de uma estrada até o Caraça, um motorista da cidade de Barão de Cocais, senhor Minervino, constrói a estrada em local dito irrealizável. O ensinamento da escola apostólica foi orientado por professores de onze nacionalidades tais como brasileiros, portugueses, franceses, italianos, alemães, dentre outros de outras culturas. E todos contribuíram para a formação de grandes nomes no cenário político e cultural brasileiro. Na história do colégio e escola apostólica, mais de onze mil alunos passaram por suas salas. No ano de 1994, a área de 11 233 hectares em torno do colégio se transforma em Reserva Particular.




  • Altitude: varia entre 750 e 2072 m    
  • Distância em relação à Belo Horizonte: 116 km 
  • O Santuário do Caraça é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)
  • Município e Estado de localização: Santa Bárbara (MG)



  Geografia do Caraça: Clima, Vegetação e Informações Adicionais

Ambiente característico de "Mata"
  Seu clima é ameno durante todo o ano, registrando uma temperatura média na ordem dos 15 graus centígrados. A condição do seu clima, as condições geológicas e o isolamento dos grandes núcleos urbanos favorecem a preservação da flora e da fauna, o que propicia a ocorrência de plantas e animais em risco de extinção. A vegetação predominante é de transição entre Mata Atlântica e Cerrado, surgindo, nas partes mais altas, os campos rupestres. Diuturnamente, animais raros cruzam as trilhas do parque chegando alguns, como o lobo guará, ao adro da igreja. O guará é a atração principal das noites do Caraça. Vem ao adro onde o espera uma vasilha contendo a sua ceia, aí colocada pelos padres do santuário.


Ambiente característico de "Cerrado"


  




Fauna e Flora do Caraça




  O Caraça apresenta fauna e flora diversificadas e por esse motivo é conhecido como o “Paraíso dos Botânicos”.  Devido à extensão do Parque, encontramos várias espécies dos reinos Plantae e Metazoa. A cobertura vegetal é rica e heterogênea.



  A vegetação campestre é baixa, os solos são pedregosos e neles encontramos arbustos. Na parte de cerrado, as árvores possuem raízes mais profundas e seus troncos são encurvados, revelando a pobreza do solo que caracteriza essa cobertura vegetal.


  O Caraça abriga uma infinidade de espécies animais, como insetos, aves, anfíbios e mamíferos. Exemplos: lobo guará, cascavel, macaco guigó, paca, anta e suçuarana.



Caraça: Como Chegar

  Tomando como ponto de partida a capital mineira Belo Horizonte, BR 381 sentido Vitória-ES até o trevo para Barão de Cocais – Santa Bárbara – Caraça. Seguir pela MG 436 via Barão de Cocais. Antes da cidade de Santa Bárbara, virar à direita para o Caraça.